Urbano Tavares Rodrigues
Vasco Branco celebrizou-se cedo como escritor graças à estrutura ousada das suas narrativas e à particular relação, que nelas se observava, com a arte cinematográfica. O arrojo e originalidade das ideias surgem logo, a partir de 1952, com a publicação dos seus primeiros contos e dos romances Gente ao Acaso (1957) e Os Vagabundos Ilustrados (1959). Mas os seus grandes êxitos serão as novelas As Regras do Jogo (1960) e o romance Iva e o Mar (1965), que tive a honra de assinalar como obra de real qualidade em que a focalização muito moderna denunciava o convívio com novas estéticas importadas de França, do romance do olhar e da «nova vaga» do filme.
Em Os Generosos Delírios da Burguesia, que obtém em 1979 o prémio de ficção da Associação Portuguesa de Escritores, junta-se uma certa crítica, discreta, aos costumes da classe dominante, que, uma vez varrido o fascismo do poder, se instalou nas mesmas ou quejandas práticas sociais e alusões à mediocridade reinante, associando o autor ao tema dominante do amor um sopro poético, por vezes lírico, além de uma grande agilidade nos diálogos, que, embora fugindo à banalidade, se recomendam pela vivacidade oral. O sentido de economia verbal e uma certa ambiguidade persistem no estilo, bem como o gosto da ruptura. O narrador interno (no eu) dá vigor e poder de persuasão ao fluir da escrita. Esplêndidas descrições, por vezes salpicadas de axiomas com alguma pitada de filosofia da vida. E sempre a presença do cinema. De Vasco Branco direi ainda que ele é, com os seus livros, um homem de risco calculado, de grandes generosidades. De amor à palavra. E de palavra amante.